Excerto do livro “Aos nossos amigos e amigas“, capítulo Fuck off Google:
“A figura do hacker se opõe, ponto por ponto, à figura do engenheiro, quaisquer que sejam as tentativas artísticas, policiais ou empresariais de a neutralizar. Enquanto o engenheiro captura tudo o que funciona, e isso para que tudo funcione melhor a serviço do sistema, o hacker se pergunta “como é que isso funciona?” para encontrar as falhas, mas também para inventar outras utilizações, para experimentar. Experimentar significa, então, viver o que implica eticamente esta ou aquela técnica. O hacker vem arrancar as técnicas do sistema tecnológico, libertando-as. Se somos escravos da tecnologia, é justamente porque há todo um conjunto de artefatos de nossa existência cotidiana que temos como especificamente “técnicos” e que consideramos sempre como meras caixas-pretas das quais somos inocentes usuários. O uso de computadores para atacar a CIA comprova de modo suficiente que a cibernética não é a ciência dos computadores, da mesma forma como a astronomia não é a ciência dos telescópios. Compreender como funciona qualquer um dos aparelhos que nos rodeia significa um aumento de poder imediato, um poder que nos dá controle sobre aquilo que a partir de então já não surge mais como o ambiente que nos cerca, mas como um mundo disposto de certa maneira e sobre o qual podemos intervir. É este o ponto de vista hacker sobre o mundo.”